Breno foi pai e mãe ao mesmo tempo. Quando Paulinho tinha 3 anos, Anita saiu de casa. Queria viver a vida e seus sonhos eram incompatíveis com qualquer tipo de rotina, principalmente se esta incluísse casa e filhos. O que para Breno foi ótimo. A idéia de ser pai-solteiro jamais o assustou. Mesmo sendo policial, fazia parte da polícia técnica, era excelente desenhista e sua especialidade era produzir retratos falados e projetar o desenvolvimento das imagens de crianças desaparecidas. A partir de fotos da criança e seus pais, projetava como seria seu rosto quando ela tivesse mais velha.
Breno seguiu a vida no mesmo ritmo de antes. Nunca mais pôs os pés em casa, exceto no dia do enterro, quando foi retirar algumas roupas suas e documentos.
Mudou-se para uma pensão
Breno nunca mais se relacionou com outra mulher. Pra ser sincero, não se relacionava com mais ninguém. Sua rotina era o trabalho e o quarto da pensão. No trabalho quase não falava com ninguém, prática facilitada pela sua atividade altamente técnica e reservada. Praticamente só conversava com vítimas de crimes para reconhecer criminosos, mas que mesmo assim era um trabalho de mostrar álbuns e formatos de rostos e traços.
Seu quarto na pensão só tinha uma cama e um criado mudo, onde pôs um porta-retrato com uma foto em “close” de Paulinho.
Todo dia em que Paulinho completaria mais um aniversário, Breno substituía a foto por outra, atualizada por ele em programa de computador. Assim ele podia ver como estaria Paulo ano após ano.
E assim o fez por muitos anos.
Um dia, quando atualizou a imagem de Paulinho quando ele completaria 34 anos, Breno por fim reconheceu-se. Parecia que não era mais o Paulo, mas a imagem de si próprio.
Nesse dia, antes de ir para casa, passou pela confeitaria que ficava na esquina e comprou um pedaço de torta de maçã, uma velinha.
Ao chegar ao seu quarto, substituiu a foto atualizada no porta-retratos, cantou para si mesmo em pensamento o “parabéns a você”, apagou a vela, comeu o bolo e foi deitar-se.
Seus colegas da Polícia encontraram-no morto em sua cama no dia seguinte. Já não tinha mais motivos para levantar-se.
6 comentários:
Juliano, excelente texto, o que prova que você continua aquele cara talentoso que conheci muito tempo atrás e que tive a graça de conviver (bons tempos do BB, hein!?).
Foi muito bom conhecer seu blog (recomendação do João Luis). Vou linkar seu endereço lá no meu. Aproveito o ensejo para convidá-lo a conhecer para trocarmos idéias. Sempre voltarei por aqui para conferir seus novos conteúdos.
Gostei das pinturas.
Abração.
Ery Roberto
www.infinitopositivo.blogger.com.br
Juliano, voltei para lhe dizer que vou apresentá-lo no blog aos meus leitores. E para isto, nada melhor do que - com sua permissão - reproduzir este texto ("Porta-retrato").
Forte abraço.
Ery
Oi, Juliano,
Cheguei aquí através do Ery . Comprovei mais uma vez que é bom dar ouvidos aos amigos.
Abração e parabéns pelos textos.
Juliano,
também vim trazida pelo Ery, e valeu a pena.
Você escreve muito bem, que bom.
Abraço
Vivina.
Valeu pela força, Ery!
O seu site é excelente. Fiquei muito feliz com a recepção que o texto está tendo. Isso me dá coragem para perseverar dessa seara...
Baita abraço e, mais uma vez, obrigado!!
Oi, Cris,
Obrigado pelos teus comentários!
Espero Vê-la de novo em meu blogue.
Grande abraço!
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